quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Entrevista com antropóloga

Essa foi a minha primeira experiência como entrevistador. Confesso que foi bem difícil, porque ela não falou o que eu queria escutar hehehe...


O que você acha da questão da ciência e da antropologia. Você acha que fazer uma má interpretação de uma cultura é um discurso não científico? É possível mensurar cientificidade numa etnografia? [comentário: essa pergunta surgiu porque em alguns momentos na aula, a professora falou dos evolucionistas como não científicos, pois eles não faziam uma descrição real dos fatos. Achei bom tocar nesse assunto porque ela me parecer menos relativista do que se propôs]

Primeiro eu tenho uma definição de Ciência: um tipo de atividade intelectual, que requer preparação, perspectiva metodológica, uma formulação teórica. Parece que você pensa na ciência pela denotação com busca da verdade. Isso está como algo redefinido, poderia até dizer como ultrapassado, porque é difícil falar em verdade absoluto em qualquer situação, seja no mundo natural e social. [ciência] é postura metodológica e fundamentada metodologicamente por um aspecto da realidade que diferenciaria a postura espontaneísta e com seus recursos formular teorias. Não acho que ciência se define como busca da verdade.
Métodos seriam parâmetros de cientificidade?
Sim, principalmente nas ciências sociais. Porque nós estudamos do resultado do agir social, não se repete da mesma forma, diferente do mundo natural. [comentário esse ponto eu discordo pelos princípios de causalidade ou imputabilidade, mostrados por Kelsen]

Falar que os índios desejam ser incluídos na sociedade. Falar que os índios gostariam de ter TV porque não foram apresentadas a elas. Por que essa postura seria equivocada?
Primeiro porque se presume que eles podem manifestar o desagrado ou o agrado de ser incluído. A situação atual mostra uma relação de contato irreversível. Independem deles se eles gostariam ou não.

(eu reformulei a pergunta)

Na condição de branco, uma questão da ação. A gente considera que assisti tv é uma coisa boa e que os índios também acharão uma coisa boa. Esse discurso não seria uma coisa imposta, o antropólogo teria de fazer ou não fazer?
Não, mas ele iria preparado. No caso do antropólogo, essa situação muda um pouco, mas em geral ele vai preparado para não se impor,, apesar de ser difícil.
A situação irreversível de contato e a necessidade de integração com os brancos, para reproduzir os seus costumes e mantê-lo aquilo na sua cultura. Entrar em contato com a nossa é permitir um pluriculturalismo. Eles já sabem atuar em duas culturas. Eu diria que impor a eles determinadas coisas a eles, para a integração, eles tem de fazer coisas que não fossem feitas. Para assumir posturas que desagradam junto ao governo ou o seguimento. Mesmo na nossa sociedade, eu acho que eles poderiam ter oportunidades e posturas cada vez menos positivas.

Pela minha percepção, as posturas do evolucionismo acabaram por legitimar o colonialismo, a ciência como forma de legitimar a política. As tribos africanas são pessoas como a gente, mas, ao mesmo tempo, eles podem evoluir, eles podem melhorar. O que a antropologia tem feito a isso?
Primeiro não foi o evolucionismo que provocou isso, mas aconteceu pelo processo de mercantilismo. O contato dos europeus fez que isso surgisse.
O evolucionismo tem aspectos que levam a isso, mas não foi apenas isso. (comentário: eu não tinha afirmado isso hehehe). Acho que são avaliações muito historicizadas. Na evolução do pensamento científico, era impossível que a teoria fosse equiparada na antropologia como o direito a diferencia. O Morgan era um religioso, tradicional. Deduzir do evolucionismo uma postura para a ciência toda ou uma afirmação só da inferioridade entre os povos é uma leitura mutilada. É evitar ou perceber que a questão pela época. Mas eu concordo que a postura dele reflita um pouco o pensamento da época
Inclusive Morgan lutou pelo direito ético. Ele era advogado. Havia uma empresa na época que estava invadindo o território de uma tribo indígena e ele foi a Washington defender o direito desses grupos.
Fica perceptível para mim que a ciência é uma construção do momento histórico...
Por isso que eu falo que o teor da antropologia é mais hermenêutico, da interpretação que é uma busca de sentido, mais do que epistemológico, que pode explicar como desdobramento como um sentido das coisas.
Hermenêutica é uma coisa muito em voga no direito.

Eu vejo muito no meu curso de Direito a diferenciação entre sociedades primitivas e sociedades evoluídas. Tirando a Europa e a América do Norte, são todos atrasados. O que você acha disso?
Submissão total aos valores de uma determinada época sem nenhuma tentativa de relativizar os valores dessa época. É civilizado, tem progresso, mas, em momento algum, parece com uma postura crítica em termos de nível de civilização em relação aos processos de civilização. Se você conhecer em detalhes a história da Inglaterra, é um grupo de bárbaros soltos pelos continentes. Mas o que a Inglaterra fez na China, Austrália e Índia? Condutas inspiradas pelos valores ocidentais em que eles não se davam conta da crueldade que estavam fazendo, e isso se chamava civilização. Então, quando se fala que um é atrasado ou outro é adiantado e tudo mais, é necessário um olhar crítico com o ocidente. É uma visão enviesada, acrítica e considerando os valores como escolha, mas sim o que a cultura escolheu. O valor não tem postura de hierarquias, qualidades e superioridades. Ele não é hierárquico, é diferenciador. São valores acríticos, ahistóricos. Como essa civilização se generalizou? É um desconhecimento das potencialidades da humanidade. A humanidade se atualiza na diferença. É um imaginário esquizofrênico, faltando elementos cognitivos para conhecer o que é uma cultura diferente da nossa.
Complexa e sociedade tradicional: Eu vejo que essa questão da sociedade complexa e a deles tradicionais e isso é muito mais por uma postura de vista, porque a gente está inserida nela e isso vai possibilitar uma descrição bem mais pormenorizada. E quando a gente vai a uma sociedade primitiva, a gente acaba simplificando as relações (a ideia era aumentar as compreensões sobre a obra de luhman, mas ela não respondeu a essa questão).

O direito é um curso bem tradicional. Acredita na unidade, na legalidade. Tem outras posturas de pluralidade, mas nas minhas aulas, uma única possibilidade. Você acha que existiria um crime universal? O exemplo da pedofilia seria um crime universal? O bem é em si ou é um bem relativo?
Eles endeusam a norma. Quando a gente fala em pedofilia na nossa sociedade, essa prática tem de ser negada em todos os seus aspectos. Um crime universal? Eu não tenho resposta para isso porque necessitaria de uma constatação empírica. Eu me acolho muito na discussão feita por Durkheim. Ele diz o que é um crime vai variar de cultura para cultura. E isso só é identificável pela pena, por determinados atos, é possível observar o que é o crime. Eu acho que isso seja uma postura bem relativista. O crime é generalizado e será objeto de sanção negativa.
Eu vejo umas problemáticas de Durkheim sobre o que seria essa sanção negativa...

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Trem da Alegria

Você é C
Por seu amor
Eu acho que eu posso fazer
Qualquer coisa
Eu posso fazer qualquer coisa
...
Será, C?


Versinhos, sussurros de um brokenheart