sábado, 5 de abril de 2008

Seria eu um futuro reacionário?

As ideologias não se esvazeiam, elas são empurradas pelas novas.
Eu penso que nada expressa meu sentimento de hoje. Paráfrases e analogias poderiam surgir, mas hoje os versos são de um poeta português.

"Eu não sou eu nem sou outro
Sou qualquer coisa de intermédio
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o outro"
Mário de Sá Carneiro.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

E em suas fúrias de egocentrismo
seu caderno, escrevia:
Alexandre Fernandes
Alexandre Fernandes
Alexandre Fernandes
William Shakespeare
William Shakespea...

domingo, 30 de março de 2008

Eu nem sei se quero te ver...

Foi feliz minha sensação nostalgia, mista Caetano Veloso de infância. Acho que cansei das histórias gerais, melhor pensar os pequenos casos, mesmo que disso não se conclua nada. Não sei se teria aprovação nardiana em escrever assim, mas mesmo assim, eu escrevo.


Uma das minhas avós se chama Maria Madalena. Mas não foi assim que introduziram a pessoa dela para mim: O nome dela era Vovó Paé. Ela era uma dentista que fumava e trabalhava no centro da cidade, que meus pais visitavam todos os domingos à noite e que eu ia à casa dela assistir a Topa tudo por dinheiro. Vovó Paé é vovó Paé, não é Maria Madalena, quer dizer, ela é, mas não é.

Vovó Paé se aposentou por invalidez, pois ela tinha problema nas pontas dos dedos, pois não tinha sensibilidade neles. Ela foi uma dentista porque não conseguiu passar no vestibular de medicina, e isso refletiu muito na vida dela. Não que ela seja muito traumatizada por ser dentista, mas a retórica que ela faz da vida dela é que isso é uma frustração. E parece que esse desejo pela ideologia do médico como a profissão mais digna do mundo fez com que ela sempre desejasse aos seus filhos e netos seguir essa profissão. “ah, eu acho antipático advocacia”, “ah, desenho industrial é sem futuro”, “eu sempre achei que Juninho seria médico”. Juninho, meu tio, é o filho dela que virou dentista. Nem acho que isso seja orgulho dela, de um filho com a mesma profissão. O orgulho que ela tem do filho é muito mais pelo homem que ele é, pai de família respeitoso e bem-sucedido, bom filho, não por ser dentista.

Vovó Paé também é uma pessoa que guarda muito o que as pessoas falam, fazem ou deixa de fazer. Muito rancorosa, até hoje ela guarda que eu disse que ela parecia com “Laura Cardoso”, uma atriz velha que fazia “Mulheres de Areia”. Toda vez que ela passa na TV ela lembra de mim. Vovó é vaidosa, não gosta de envelhecer.

Vovó Paé é uma pessoa que eu gosto de me deitar junto na rede, mesmo que ela brigue comigo com medo de morrer da queda que meu peso provocaria na rede. E catucar o umbigo dela, e falar sobre as besteiras da vida. Ela as vezes me chama de colher de mexer merda.

Vovó Paé se chama Paé porque quando criança ela, em vez de falar “Para eu”, ela falava “Pa é”. E ficou esse nome nela. E a irmã, quando nasceu, ela a chamou de “Paé-mais”. Mesmo assim, o apelido que vingou foi o de minha avó.

Vovó Paé nasceu em São José do Seridó, em 1942. Ela casou com meu avô em 1961, aos 19 anos. Ela teve cinco filhos, minha mãe é a terceira. Eu sou o terceiro. Minha avó é a terceira também, apesar de, entre o segundo filho e ela, ter morrido três bebês.

Vovó Paé está vindo a Brasília nos visitar. Estou feliz com a vinda dela. Espero está suficientemente feliz para dar as devidas atenções a ela.