quinta-feira, 27 de março de 2008

Os Argonautas

"Quando eu chego em casa nada me consola: você está SEMPRE AFLITA... Você é TÃO BONITA". Lembro da esposa do meu tio com seus cabelos bastante volumosos, com um copo de cerveja na mão, abraçada ao meu tio cantando esses versos. A música tocava na vitrola, na frente da casa da minha avó, dando para a principal avenida de Natal. Eu deveria ter 5 anos e ver aqueles momentos de som alto, de pessoas conversando e o movimento da festa da Esmeralda fazem dessa memória algo bastante nostálgico, e feliz também.

"Princesa, surpresa, você me arrasou. Senhora, e agora?". O quintal do Domingo naquelas tardes de uma Nova Descoberta pobre. Um quintal imenso e cimentado, local de andar de cueca, brincar com o velocípede, correr atrás dos coelhos criados para comer. No fundo do terreno, nos quartinhos pequeninos, um computador de tela verde com uma estante "altíssima". Essa música tocava na vitrola de maneira mais do que usual. Painho sempre curtiu Caetano.
Nova Descoberta continua um bairro pobre, de ladeiras ingrimes e pessoas que se encontram na rua. O quintal imenso e cimentado é curtido por novos inquilinos. Última vez que passei por lá a frente onde eu plantava meus pés de feijão estava mudada, talvez para pior. Achava aquela casa tão bonita, tão grande. Talvez minhas dimensões não fossem suficientes para mostrar o real tamanho daquele local.
Parei de andar de cueca pela casa aos 6 anos. Há uma foto minha que mostra a transformação do meu pudor: Eu andava em casa de cueca sempre, mas meu pai quis tirar uma foto minha e dos meus irmãos juntos, e eu fiquei com vergonha de tirar a foto de cueca. Que fiz? Sentei-me no chão e levantei as pernas para não mostrar a cueca. Eu começava a me sentir indecente.
O computador de tela verde foi roubado, uma lata velha atualmente. O cara foi preso, inclusive. Meu velocípede era de metal, as vezes era atropelado pela minha irmã, e machucava muito. Os coelhos, obviamente, morreram. E eu vi eles sendo mortos. Pauladas nas cabeças daquelas crianças fofas.

"Você é linda". Eu escutava essa música na TV, acho que era trilha sonora de alguma novela. Dias das mães, painho e eu fomos ao Hiper Bompreço comprar os presentes dos dias das mães. Não lembro muito bem o que ele deu, talvez tenha sido um eletrodoméstico, ou uma impressora, enfim, nao lembro o que era. Eu queria dar algo mais especial, acabei por pedir para ele comprar o cd do caetano veloso. Acabou que quem mais escutou o cd fui eu.


E hoje eu berro pelo aterro, pelo desterro, berro por seu berro, pelo seu erro. Quero que você ganhe, que você me apanhe. Sou o seu bezerro gritando mamãe. As aspas não são utilizadas no sentido de que esses versinhos expressam muito a minha vontade. Mas a autoria é do Caetano.

Uma ideia iluminada: Pensar o passado significa repensar meus sentimentos de nordestino. Mas parece que a minha identidade não é a de nordestino, de um potiguar em metamorfose pernambucana, de uma criança que viveu seus primeiros seis anos num bairro relativamente pobre. Eu não consigo mais me identificar com esses sentimentos... talvez eu seja um nordestino no meio brasiliense em busca de uma identidade profissional e de auto-estima também...
Feliz, acho.

domingo, 23 de março de 2008

A metalinguagem por si só é a estação dos sem inspiração. Desenvolver por lá o que não é capaz de desenvolver por além disso é uma atividade extremamente engrandecedora, útil e por demais divertida. Eu adoro a metalinguagem.

Fica nesse limbo, ela faz bem.

Mas ainda acredito que não seja falta de inspiração, mas de identidade.

E eu tô catucando a ferida, e consegui algo que fazia mais de dois meses que não acontecia: O Nardi escreveu no blog.

Sim, eu sou sensacional (e egocêntrico por tabela).