Conto de alguém que não consegue estudar
Por Alexandre Fernandes
Para Mainha, a 3ª pessoa que leu esse texto
O texto foi revisado.
Ele pensou na metaliguagem para escrever. Lera um conto de um amigo distante, enviado por e-mail, quando subitamente deu aquela inspiração danada para escrever. Pensou em o que escrever: olhou os copos sujos que sua mãe tanto odeia que ele deixa na mesa do computador, um com fanta laranja e outro com chocolate em pó molhado pelo sorvete do final de semana.
Alexandre escrevia um conto sobre ele mesmo, com uma dor imensa por não estar estudando para a prova de Direito privado. Talvez a dor nem fosse imensa: Pensou, depois, num momento de revisão, que era bem aquela situação de dever por simples conformidade aos benefícios que poderia ganhar. Do lado dos dois copos sujos, tinha um caderno com as anotações da matéria, do constante pensamento de "odeio negócios jurídicos", e de um livro com as leis do estado brasileiro, o vade mecum, na qual havia escrito alguns comentários interessantes para fingir ter
insights legais, capazes de mostrar a professora que era digno de menções boas. Sua vontade era em saber o que faria nas férias, entediado de voltar à cidade natal, que, por acaso, se chamava Natal, local onde ele passaria, mais uma vez, as festividades do Natal. Sim, ele se achava imbecil em escrever essa frase com palavras repetitivas. Sim, ele foi pesquisar o nome da figura de linguagem para substituir palavras repetitivas. Mas não, ele não pesquisou, ficou com preguiça e olhou pro relógio para ver o que tinha escrito.
Esse mesmo Alexandre pensava em muitas coisas mais divertidas do que saber um artigo diverso do código civil. Ele pegara um exemplo de artigo para explicitar suas dores diante de tanta revolta, revolta que ele realmente nem tinha tanto, aos estudos de direito privado: "Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta". Foi aí então que ele percebeu que estudar direito sem praticá-lo perde muito sentido. Mentira: ele já sabia disso há algum tempo, só achou interessante escrever isso no texto que ele produzia.
No começo de sua escrita, já pensava que não poderia dizer o que realmente pensava: Seria muita exposição! Sim, exposição porque ele queria publicar o que escrevia. Lembrou de uma citação que vira na biblioteca de sua universidade: "Um livro fechado é um gênio calado", ou algo similar a isso. Tudo bem que é necessária uma analogia, talvez "um texto não publicado não tem a menor graça". Por isso uma necessidade de enviar ao grupo de e-mails, à espera de que alguém comente e diga: Nossa, Alexandre, como você escreve bem!". E sim, ele é realmente egocêntrico, deseja muito ser o centro das atenções. Mas novamente volta o pensamento, para dar uma certa coesão ao parágrafo que ele estava acabando de escrever: Eu não posso me expor demais. [continua]
Por Alexandre Fernandes
Para Mainha, a 3ª pessoa que leu esse texto
O texto foi revisado.
Ele pensou na metaliguagem para escrever. Lera um conto de um amigo distante, enviado por e-mail, quando subitamente deu aquela inspiração danada para escrever. Pensou em o que escrever: olhou os copos sujos que sua mãe tanto odeia que ele deixa na mesa do computador, um com fanta laranja e outro com chocolate em pó molhado pelo sorvete do final de semana.
Alexandre escrevia um conto sobre ele mesmo, com uma dor imensa por não estar estudando para a prova de Direito privado. Talvez a dor nem fosse imensa: Pensou, depois, num momento de revisão, que era bem aquela situação de dever por simples conformidade aos benefícios que poderia ganhar. Do lado dos dois copos sujos, tinha um caderno com as anotações da matéria, do constante pensamento de "odeio negócios jurídicos", e de um livro com as leis do estado brasileiro, o vade mecum, na qual havia escrito alguns comentários interessantes para fingir ter
insights legais, capazes de mostrar a professora que era digno de menções boas. Sua vontade era em saber o que faria nas férias, entediado de voltar à cidade natal, que, por acaso, se chamava Natal, local onde ele passaria, mais uma vez, as festividades do Natal. Sim, ele se achava imbecil em escrever essa frase com palavras repetitivas. Sim, ele foi pesquisar o nome da figura de linguagem para substituir palavras repetitivas. Mas não, ele não pesquisou, ficou com preguiça e olhou pro relógio para ver o que tinha escrito.
Esse mesmo Alexandre pensava em muitas coisas mais divertidas do que saber um artigo diverso do código civil. Ele pegara um exemplo de artigo para explicitar suas dores diante de tanta revolta, revolta que ele realmente nem tinha tanto, aos estudos de direito privado: "Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta". Foi aí então que ele percebeu que estudar direito sem praticá-lo perde muito sentido. Mentira: ele já sabia disso há algum tempo, só achou interessante escrever isso no texto que ele produzia.
No começo de sua escrita, já pensava que não poderia dizer o que realmente pensava: Seria muita exposição! Sim, exposição porque ele queria publicar o que escrevia. Lembrou de uma citação que vira na biblioteca de sua universidade: "Um livro fechado é um gênio calado", ou algo similar a isso. Tudo bem que é necessária uma analogia, talvez "um texto não publicado não tem a menor graça". Por isso uma necessidade de enviar ao grupo de e-mails, à espera de que alguém comente e diga: Nossa, Alexandre, como você escreve bem!". E sim, ele é realmente egocêntrico, deseja muito ser o centro das atenções. Mas novamente volta o pensamento, para dar uma certa coesão ao parágrafo que ele estava acabando de escrever: Eu não posso me expor demais. [continua]
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