quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Reach for the top, she said, and the sun is gonna shine

(continuação do conto abaixo)

Pensou em meios e meios para escrever um texto em que ele se incluía, mas que ao mesmo tempo não exponha seus desejos (sexuais?) e suas vontades; ele era às vezes tão transparente, mas queria mesmo manter certo “eu obscuro”, que ninguém visse. Pensou se a alegoria da fantasia era o alvo mais fácil de fugir dessa exposição que ele teimava em fugir. Sim, a alegoria da fantasia foi o meio que ele seguiu. Talvez, depois de um determinado parágrafo, que ele não tem coragem de dizer qual página é, já que vai depender muito da formatação que ele tenha, e deixar um espaço em branco (____) para que o editor do texto preencha de acordo de como a crônica dele vai ficar, pois a literatura é intangível. Por enquanto, ele lança a idéia: A fantasia começa na página dois.

Ele sai da frente do computador. Uma barata carrancuda se aproxima da cadeira dele, ele procura a sandália do irmão que ele usa para matá-la. A baratinha de Kafka, a mesma que sua irmã de 12 anos leu, inveja que ele tinha dela. Pensou em reclamar para a sua mãe em dedetizar a grama, porque era absurda a quantidade de barata durante esse período chuvoso. Simplesmente matou e ainda deu um grito com misto de risada “Toma sua desgraçada!”. Voltou ao computador e escreveu “Poxa, como falar isso soa machista”. Não importa, era melhor arrumar as malas. Para quê escrever um conto?

Mas ele escreveu e foi ao guarda-roupa: Olhou as roupas que tinha comprado com sua mãe no shopping, lembrou que passaria o ano novo de vermelho. Lembrou do reveillon de 2004/2005, quando também passou de vermelho. Dizia “quero muito amor!”, transparecendo no seu discurso aquela vontade de conseguir transar, afinal de contas, estava entrando no segundo ano do ensino médio, enquanto boa parte dos seus amigos já tinha “comido uma menina” e ele encontrava-se cheio de segredos e mentiras para esconder sua ausência de atividade sexual. Era feio ser virgem, ainda é. E não, no conto que ele escreve ele não conta sobre a sua vida sexual, agora que tem 18 anos (quase 19).

E arrumou as malas, com todas as roupas que comprou, com as cuecas encardidas, com o calção de praia que utilizará para tomar banho de sol. E esse ano ele tomara bem menos banho de sol, com medo que seu ouvido inflame da água do mar, com vergonha de mostrar seu corpo que se arredondara nos últimos nove meses. E ele dá uma risadinha quando escreve suas vergonhas, porque associa os nove meses da sua falta de exercício físico ao aumento da sua gordura. Realmente as camisas de um ano atrás estao mais arroxadas.

Lembrou que matou a barata, saiu da sala onde estava seu computador, foi ao seu quarto, arrumou a mala. Recapitulou um pouco os seus pensamentos durante aquele momento, escreveu o texto mais uma vez e começou a revisá-lo. Começou a pensar, durante esse meio tempo, os comentários que viriam, o que já tinha lhe dado certo entusiasmo: Realmente Alexandre, você é egocêntrico, mas merece palmas por seus textos. E revisou. Retirou alguns termos “e”, pois uma figura de linguagem que caracteriza seus textos, normalmente, é a tal da sindética.

Voltou ao texto apenas um mês depois, depois de viajar e ser assaltado e retornado. E não quis revisá-lo, apesar de ter feito isso. “Quem for ler esse texto vai se perder”, escreveu. Quem for ler esse texto vai se perder.

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